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Mais uma noite fria de chuva qualquer


Pedro toma um café no balcão de um bar. Na TV alguma notícia sobre o mundo. Ele assiste indiferente. Nas mesas de fora observa duas amigas que conversam. Elas já estão na terceira cerveja. Sorriem à toa. Lindas. A breja, a conversa, as blusas e os cachecóis as aquecem do frio. Uma garoa começa a cair. A intensidade aumenta e ela se transforma numa chuva. As garotas e outros clientes entram no bar. Um cara de boné e mochila preta se refugia no toldo do estabelecimento. Ele consulta o celular. Nas mesas lá no fundo um casal com a filha parece se divertir. O pai é enorme, a mãe é um pouco menor e a filha é pequenina. Os olhos dos pais brilham a observar a garotinha que se diverte enquanto come. Pedro paga o café e vai para o toldo. Acende um cigarro. Os carros que passam com seus faróis revelam as gotas que estão prestes a molhar o asfalto. Os postes iluminam a noite chuvosa. Pedro joga sua bituca no chão, cobre a cabeça com a toca da blusa e caminha na chuva com suas mãos no bolso. A entrada iluminada do metrô reúne um pequeno grupo de pessoas que se protege do mau tempo. Guarda-chuvas sóbrios enchem as calçadas. Pedro abre caminho entre a multidão e entra molhado no metrô com seu cheiro de chuva, café, cigarro, fumaça e desencanto.

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