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Festa de um homem só

Que ressaca da porra. Vomitei no cobertor. Que nojo. Preciso de um banho, mas não consigo me levantar. Na real, não consigo nem se quer lembrar do que aconteceu ontem. Eu saí? Estava com alguém? Por que estou nu? Será que transei? Foi com uma mina ou com um cara? Merda. Meu estômago dói, meus olhos ardem, sinto-me quebrado. O chão do quarto está cheio de latinhas vazias, cinzas e guimbas de cigarro. Lembro de música, tinha uma galera com uns violões e diversos instrumentos de percussão, batendo palmas, cantando inspirados, bebendo com aqueles copos vermelhos, umas minas lindas com seus vestidos e shorts curtos, umas sem sutiã, cabelos soltos e amarrados, outros lindamente armados, franjas, bocas vermelhas, grandes e pequenas, pareciam pin-ups, outras mais moderninhas, uns caras gatos também, estilo lenhadores, outros pareciam ter saído agora da era rockabilly com seus topetes e roupas engomadas, olhos calmos e penetrantes, com barba e sem, o pomo de Adão saliente. Acho que rolou Beatles, Bob Dylan, Phil Spector e um barulho da porra, puta animação, acho que era uma espécie de luau. Cara, onde tá meu celular? Achei. Merda. Quebrei meu fone se mexendo durante o sono. Deixa eu falar com alguém pra descolar o que rolou ontem. Oxe. Dormi ouvindo Party do Beach Boys? Ah, tá explicado. Que mané.



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Bicharada

Lana É madrugada faz 11° no Grajaú não consigo dormir, mas no escuro permaneço ouvindo o silêncio dos cômodos da casa sob camadas e camadas de tecidos e algodão da touca, do travesseiro e dos cobertores ouço minha respiração & meus pensamentos ouço o pc que ficou ligado ouço os ratos andando sobre o foro &  Mia que para de se coçar para prestar  atenção nos ruídos do teto ouço o vento que balança a janela de leve & Dante que late lá fora, provavelmente  por causa dos ratos Então  de repente  sinto Laninha subindo em minhas pernas cobertas & se encolhendo entre elas como um caracol  – pelo visto não sou só eu acordado nesse frio

Tira-Teima

Ela diz que eu sou teimoso, mas eu insisto que não. Ela que é teimosa por insistir que eu sou teimoso. Entre teimas e teimas resolvi tirar um tira-teima: quando eu digo que a amo ela responde com um amo mais e quando ela diz que me ama eu respondo com um amo mais. Nessa teima sem fim nunca saberemos quem ama mais quem. Os dois são tão teimosos que provavelmente se amam em igual medida: a medida do amo mais. A grandeza é dada pelo amor, o nome da unidade é amo mais e seu símbolo é o infinito (∞) [1] . [1] A parte matemática provavelmente está errada, mas nesse caso ela só serve para ilustrar o quão infinito é o amor de dois teimosos.

Passeio

Chevette preto. Versão SL. Um ponto quatro. Rodas cromadas. Vidros sufilmados.  Passa a cento e vinte quilômetros por hora na Avenida Belmira Marin. O limite na avenida periférica é de sessenta. O clássico de 76 some bairro adentro. São duas e quinze da manhã. Milo, Cuca e Joey conversam na frente da casa de Macau. Contam vantagem do último rolê entre risadas e a fumaça dos cigarros e baseados. Mas se assustam quando um carro estranho na quebrada estaciona na frente deles. Imediatamente os vidros descem e a luz interna do carro acende. Não há ninguém no veículo. Ficam sinistramente cabreiros. O estofado de couro dos bancos fica mais brilhoso sob a luz branca do teto. Os amigos temerosos se levantam para entrar em casa quando o rádio do carro liga sozinho: “Vamo andar pelas ruas de São Paulo, por entre os carros de São Paulo, meu amor, vamos andar e passear” *. Eles se entreolham se perguntando se isso seria um convite. ...