Eu quero um jazz. Mas não qualquer jazz. Quero um jazz livre, solto, desenfreado, arrebatador, virtuoso, catártico, negro e africano. Os brancos transformaram a música erudita em mero formalismo rígido e sem vida, coube aos negros devolvê-la a pulsação através da criação e do improviso. Além de aprisionar a música, os brancos também aprisionaram os negros com seus grilhões visíveis e invisíveis, mas apesar disso, eles não conseguiram aprisionar a alma e o espírito, partes que eram incapazes de ver, além da cor da pele e dos traços físicos. O jazz nasce do confronto e não do encontro com tradições europeias, assim como a liberdade, a cidadania e a igualdade nasceram também pelo confronto com a segregação e o preconceito. Jazz é o confronto com a estrutura, com a melodia, com a tonalidade, com a concepção rítmica ou métrica, com a unidade, com a sociedade e com a posição que esta reserva para os seus criadores. O jazz é resistência, é contracultura, é em sua essência, negro. Das working songs que ritmavam o penoso trabalho nas plantações de algodão, passando pelo gospel e o spiritual que possibilitaram chamar os cultos cristãos de seus, do blues ligado a miserável existência até chegar ao ragtime e sua falta de unidade e ritmos africanos, o jazz enfim surgiu com seu dixieland, swing, middle, bebop, cool, revival, modal, free, fusion. Toda música negra é a linguagem de um povo arrancado de sua terra para ter sua humanidade negada na terra de outrem, seja o soul, o rhythm and blues, o samba, o hip-hop, todos possuem em seu âmago a essência da sofisticação de Duke Ellington, da virtuosidade de Charlie Parker, da polirritmia de Max Roach, da ferocidade de Charles Mingus, da textura de Sonny Rollins, do misticismo de John Coltrane, do experimentalismo de Ornette Coleman, da versatilidade de Miles Davis e Herbie Hancock, em suma, liberdade, a essência de toda música negra, hoje e sempre.
O universo possui 14 bilhões de anos. O sistema solar tem quase 5. A Terra também tá aí nessa faixa etária com seus 4 bilhões e meio. A matemática nesses casos é aproximada. Fruto de processos, cálculos e fórmulas complexas. Com tantos números superlativos o tempo parece infinito. Com os nossos 20 e poucos anos, quase 30 se pá, estamos ocupando somente a menor das menores das menores e menores frações de tempo desse mundo. Separo a dimensão do tempo com a do espaço, mas na verdade o que existe é a dimensão conjunta do espaço-tempo. E comigo ela funciona assim: quando estamos em espaços diferentes o tempo é mais lento e quando estamos pertinho ele é mais rápido. 2 anos é muito pouco, mas já é suficiente para saber: quero toda fração de tempo com você. 2 anos também é um número aproximado, pois o que construímos é maior do que esse valor. O nosso amor é maior do que a soma de nossos anos. Ele tá mais próximo da idade do universo. 2 an...

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