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Bang

Márcio e Moacir são irmãos. O costume da família de dar nomes aos filhos com a mesma letra poderia fazer dos dois mais unidos. Mas sempre houve uma rivalidade entre eles. Por vezes escancarada, por vezes velada, mas ela era latente mesmo quando tácita. Além do M eles sabiam que por baixo das suas peles corria o mesmo sangue. Compartilhavam dos genes dos seus pais. Mas assim como a relação entre os genes e o meio resulta em traços físicos diferentes daqueles que são herdados geneticamente, a interação dos dois com o meio onde estavam inseridos gerou diferenças de pensamento e comportamento.

Com o fim do Ensino Médio Márcio ingressou em Artes Cênicas na USP, enquanto isso Moacir dava duro como motoboy. Revolta-se com essa do irmão de estudar teatro. Isso não botava comida na mesa. Não enche barriga. Pra Moacir era coisa de veado e vagabundo. A sorte era que o irmão se virava sozinho. Não era um estorvo para os pais. Moacir ainda morava com os pais, mas ajudava nas despesas. Márcio dividia um apê com mais dois amigos na Santa Cecília. Preferia a vida no centro. Dividia seu tempo entre a universidade, um trampo aqui e um trampo ali, peças e o que aparecesse, e a boêmia de um bar à noite pelo centro de Sampa. Nas sextas-feiras estava em cartaz com uma adaptação de um conto de Nelson Rodrigues. Porém na última sexta após o espetáculo foi para a casa dos seus pais. Era aniversário do velho.

Churrasco rolando. Cerveja. Cachaça. Família reunida. Amigos. Música alta. A Banda Do Zé Pretinho animando a festa. Pés nervosos. Cinturas moles. Não tem jeito. Jorge Ben tem esse efeito. Márcio parabenizou o seu pai. Deu de presente para o velho um LP de Força Bruta. Sorriso do Velho. Abraço no filho. Pegou um copo de cerveja e ficou por ali conversando com primos e amigos do bairro. Jardim Gaivotas. Nada de Moacir até o momento. Mas Márcio já notara a presença de Juliana. Namorada de seu irmão. Ela estava com algumas amigas. Sua família também estava na festa. Ela bebia. Falava alto. Ria. Uma risada gostosa. Estava linda, cabelo solto, vestido curto e solto para uma noite quente de verão. Os olhos de Juliana foram de encontro com os de Márcio. Ela deu um sorriso tímido e lascivo. Jorge Ben deu lugar a Cartola.

Disfarça e Chora. Todo pranto tem hora. E eu vejo o seu pranto cair no momento mais certo. Olhar, gostar só de longe. Não faz ninguém chegar perto. E o seu pranto, ô triste senhora. Vai molhar o deserto. 

Thaís veio cumprimentar Márcio e lhe entregou um Bilhete.

Me encontre na casa da Dona Raimunda.

O antigo bairro de Márcio teve áreas desocupadas. Fazia parte do programa de desocupação de áreas de mananciais da prefeitura de São Paulo. Dona Raimunda se mudou com seus cinco filhos para uma nova casa adquirida com o dinheiro da indenização. Márcio sai da casa dos seus pais. Pega a direita da rua até o final. No final dela pega uma rua descendo. Todas as casas dali foram desocupadas. Em breve serão demolidas pela prefeitura. A casa está toda escura. Ele a chama sussurrando e vai entrando. Passos trôpegos.

– Juliana... Juliana...

Ela responde seu chamado lhe agarrando. Coloca-o contra a parede. Acaricia a perna de Márcio com o joelho até chegar ao seu pau. Sussurra no seu ouvido. Eles se beijam fortemente. Beijos cheios de tesão e vontade proibida. Juliana desfivela o cinto de Márcio e começa a bater uma pra ele. Beija o seu pescoço. Peito. Barriga. Coloca o pinto de Márcio na boca. Chupa com suculência olhando nos olhos dele. Mesmo que nesse breu nem ele e nem ela consigam ver nitidamente. Isso até que a visão de ambos se acostumem. Ela engole o pau de Márcio. Garganta profunda. A respiração dele aumenta. Puxa ela pra cima e a engole com um beijo. Vira ela de costa e começa a acaricia-la com suas mãos. Peitos e buceta. Vira ela de frente novamente e a deita. Tira o seu vestido. Chupa seus peitos. Desce pra barriga. Os seus dedos acariciam a sua xota. Ela geme alto. Sem restrições. Naquele lugar abandonado e nessa hora da madrugada só os fantasmas se incomodariam com seus gritos de prazer.

Márcio para com as dedas e tira a calcinha dela. Chupa as suas coxas. As virilhas. Começa a chupar a buceta dela. Ela geme mais alto e com mais excitação. As suas mãos na cabeça dele. Pressionando levemente. Ele alterna entre os dedos e a língua. Juliana o puxa pra cima com as mãos e lhe tasca um beijo. Mama nos peitos dela. Empurra-o pra baixo. Márcio continua. Juliana vai gozar. Um calor vai aumentando. As pernas tremem. Ela grita. Pede pra ele não parar. Pressiona a cabeça dele com mais força entre as suas coxas.

BANG!

Finalmente sente uma coisa viscosa entre as pernas. Está lívida de prazer. E quer mais. Mas estranha. Cheiro de pólvora e de carne queimada. Márcio está com cabeça enterrada na sua buceta. Ela sente um buraco na cabeça dele. Ele não se mexe. Ela coloca a mão entre suas pernas. Viscosidade. Cheira. Sangue e gozo. Márcio está morto. A consciência do que aconteceu vai tomando forma na mente de Juliana. Um grito de horror começa a se formar na sua garganta. Mas...

BANG!

Ele é sufocado pelo seu sangue. Moacir lhe dá um tiro na cabeça. Ele volta pra casa. Seu mochilão já está pronto. Não se despede dos pais e de ninguém. Some entre as ruas tortas e a neblina da madrugada para somente ficar na lembrança daqueles que o conheceram falando e daqueles que só o conheceram de ouvir falar.

Moacir nunca se esqueceu do que fez.

E também nunca conseguiu tirar aquela música do Cartola da cabeça.

Chora. Disfarça e chora. Aproveita a voz do lamento que já vem à aurora. A pessoa que tanto querias. Antes mesmo de raiar o dia. Deixou e saiu por outra, ô triste senhora.



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