Em flor de lótus ele sibila a palavra sagrada Om em busca do nirvana para pôr um fim ao samsara e extinguir o seu carma. No confessionário sentindo-se culpado ele segreda os pecados ao padre e segue ao genuflexório para pagar por eles com um rosário e quinze Ave-Marias. De joelhos no chão frio ele pede perdão a Deus com medo do inferno enquanto barganha a sua salvação dando dez por cento do seu salário para o pastor. Na mesa de um bar com amigos eu celebro a vida e os seus mistérios. Não acredito e não quero que nada e nem ninguém me alivie da culpa. De duas uma, ou levarei ela para o túmulo ou o tempo acabará com a sua importância. Não há remédio e nem paliativo. Não quero pureza, não quero perdão, não quero salvação, eu quero ser humano, e por ser humano eu quero viver por completo, em plenitude com tudo que é inato a minha condição e natureza. E por favor, não me acabem com o mistério. Há quem goste de dar sentido pra tudo, já eu gosto das brechas, ...