Pernas
compridas rodeiam uma cerca. A terra delimitada pelo conjunto formado pela
madeira e arame farpado restringe o acesso que antes era livre. Hoje ele anda
nostálgico em volta dessa terra que lhe foi tirada. A cada período curto de
tempo o espaço que a cerca abarca aumenta. Ele se sente incapaz, parece que
nada que possa fazer reverterá essa situação, muitos dos seus já tentaram, mas
em vão, foram expulsos ou mortos da terra que hoje não é mais de bem comum, mas
propriedade de alguns privilegiados. As suas grandes orelhas não captam nem um leve
ruído de alteração nos ventos de seu destino. O seu olfato não sente o cheiro
da mudança. O seu pelo vermelho está coberto de pó. Ele é um animal em extinção.
Aguardando o seu lugar empalhado em algum museu natural ou apodrecendo debaixo
da terra maculada com o sangue de seus irmãos. O seu corpo esguio a cada dia
definha mais e mais por causa da angústia e do desespero que lhe assolam. A
depressão lhe tirou a vontade de caçar, de comer, de viver, de lutar. A sua
carcaça vaga sob a superfície de uma terra estranha, diferente daquilo que era,
e onde não há mais lugar para ele. O contato com seres parecidos, mas que se
sentem diferentes lhe trouxe doenças, a intolerância e o preconceito de outros lhe
trouxe morte e a devastação de sua casa deixou-a infrutífera e escassa. Ele
desistiu da guerra que foi obrigado a travar. Vaga solitário no seu ritual da
morte. Ritual que é interrompido por um tiro de espingarda do dono da
propriedade. Ao se aproximar do animal abatido este se transforma num índio.
Ele dá seu último suspiro e se desmaterializa deste mundo para sempre.
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