CORTES CURTOS

aquela hora da noite que nada mais importa nenhuma contradição política ou filosófica é só a saudade e a certeza de que você é a minha sorte grande

O menino que queria ser deus, Djonga O pior escroto é aquele que sabe que é escroto E ainda justifica seu comportamento com: "Mas tá na bíblia!" Então queima essa porra, filha da puta!

Contracapa do álbum Fragile (Yes, 1971) Entre piadas e brincadeiras eu queria ser levado a sério. A maioria das ideias que as pessoas têm da vida me aborrecem, seja acerca do trabalho, da educação ou da religião, queria que tudo isso fosse levado ao diabo, que explodisse junto com todo o ocidente, com o maldito deus que as pessoas utilizam para validar qualquer patifaria que envolve exploração e dominação. Meu gato dorme de barriga para cima. Todo despreocupado enquanto eu me aporrinho por nada. Quem sabe eu só deva aceitar as coisas como são – ganhar uma grana com um trabalho qualquer para comprar sei lá o quê e viajar não sei pra onde. "Grandessíssima merda" , como diria minha finada mãe. Dona Tereza. Terezinha. Terezinha de Jesus. Ela odiava seu sobrenome. Por sinal eu também. Merda.

Fora das salas cheias de complexidade e erudição, com carteiras funcionais e pessoas sem função, o dia se finda num pôr do sol diferente e igual aos demais em sua beleza e simplicidade. Sentados num banco por entre as divisões confusas do campus, descansamos dos outros e de nós mesmos, como o pássaro que pousou no banco em frente ao nosso enquanto você tinha saído para algum lugar. E voou. Mas pra minha sorte você voltou. E me desconcertou como sempre na sua simples e maravilhosa maneira de ser que acaba com todo o meu orgulho e acidez.

La reproduction interdite (René Magritte, 1937) eu já me virei e revirei tantas vezes que hoje eu sou o reverso do inverso do avesso,  tenho um medo paradoxal que fica entre a durabilidade e a eternidade desse processo, é maravilhoso mudar constantemente, mas receio acabar sem base nenhuma sobre meus pés,  tenho um sentimento de desprendimento tão forte em mim que se levado às últimas consequências me abrigarei no meio do mato, num cantinho isolado do sertão,  algo impensável para alguém que não tem vergonha de declarar o seu amor pelas pessoas que enchem sua vida de sentido e graça

Paul mandão George ressentido Lennon entediado Ringo perdido Yoko deslocada Paul ainda sonhando com a banda que pouco a pouco se desfarela diante de seus olhos John e Yoko apáticos no mundinho deles George frustrado e calado no seu canto Ringo se sentindo péssimo no meio do fogo cruzado entre os outros três No casamento dos Fab Four Lennon é o pai ausente que ainda se acha o líder da família McCartney é a mãe que tomou as rédeas da casa George é o filho mais velho que se sente rejeitado E Ringo é o mais novo que queria que tudo voltasse a ser como era antes Um Paul preocupado conversa com um John desinteressado Um terno Harrison ensaia Octopu's  Guarden com o afetivo Starr But The dream is over, What can I say? Sempre haverá uma banda tocando em cima de um prédio em Londres no meio das nuvens como num sonho mesmo com os porcos e a ordem tentando manter o inferno tedioso de sempre

Existe um horário depois do almoço, entre o meio dia e as quatro horas da tarde, que foi feito especialmente para dormir. Principalmente nos dias frios de São Paulo, com o céu cinza e seus habitantes entocados. Mas como para muitos aqui não é São Paulo e sim Grajaú, lá está ele sentado na poltrona do caixa de sua pequena mercearia, cochilando enquanto espera pelos clientes, assento inclinado, boca aberta, a sorte é que hoje não tem moscas por conta do frio, se não já teria engolido umas cinco pelo menos. Acorda no sobressalto com os vizinhos lhe chamando devido as vacas que se alimentam com as frutas e verduras das mesas em frente ao comércio. Entre arroios e leves vassouradas as enxota dali com as barrigas cheias. Elas calmamente viram as costas com seu passo manso e seu ruminar que não tem pressa de acabar. Ele senta novamente aliviado, pois o prejuízo não foi lá essas coisas. Liga a televisão e zapeia pelos canais. Programas e programas de variedades e fofocas, o horário ve...

Duraria a noite inteirinha se eles não precisassem ir embora cada um pro seu canto O arrebol já tinha passado mas a pisada adentrou a noite num mastigado gostoso bem coladinho Não era numa sala de reboco mas o tempo foi pouco do mesmo jeito Se tivessem asas seria entre as estrelas para acabar em casa Era cheirinho no cangote, pra lá e pra cá Era beijo roubado, pra lá e pra cá Era mão boba, pra lá e pra cá Calma, avexado! Segure o fole! Era aperreio! A invenção do cão tem gosto de pecado... Mão nas costas cintura juntinha bem arrochadinha As cadeiras balançavam junto com o roçado do peito Foi o melhor jeito para acabar de se lascar quanto mais a sanfona chorava mais judiava Não teve conversa a não ser se entregar ao arretado do amor!

A Sagrada Família da Palmeira (Rafael, c. 1506) Nunca fui com a cara de deus e muito menos com a de Jesus. Esse negócio de fazer o filho carne me lembra abandono parental. E o desaforado no fim de tudo só quer fazer a vontade do “pai”... Que nem o criou! Mas homem tem um negócio com seus compadres que eu nunca vou saber explicar. Agora, Maria era uma mulher verdadeiramente divina, santa não que isso aí já é balela da igreja, e José apesar de homem era digno, carpinteiro que somava no brio da classe trabalhadora. Agora pai e filho se merecem, por isso espírito santo, não quero conversa. Você tem parte nesse cambalacho. 

aprendi com as canções que a vida pesa muitos quilos e que às vezes chega até a pesar várias toneladas apesar disso, você me ensinou a não ter grilos mas eu de teimoso vivo dando cabeçadas, murros em ponta de faca e insistindo em danações absurdas, sem sentido, por isso às vezes egoistamente me esqueço que você também tem seus maus momentos

dentro do seu quarto deitado em sua cama olhando pela sua janela as sombras e os contrastes da luz sobre as persianas escondem e revelam as cores do fim da tarde o marrom dos galhos o verde das folhas o amarelo do sol o azul do céu durmo sentindo seu perfume no travesseiro rosa da turma da mônica sonho com uma luz intensa sonho com um aroma intenso sonho com você intensamente e acordo com um beijo seu com você sorrindo pra mim .

Cristo abençoador (Jean-Auguste Dominique Ingres, 1834) uma esculhambação danada uma aporrinhação que só e pra quê? pra nada ... ah bichão, na boa vai se foder !

como num filme que o final muda todo o seu decorrer volto para o início e tento juntar todos os fragmentos que me pareciam banais e insignificantes sem importância, como: uma simples pergunta um simples comentário uma simples gargalhada uma simples conversa ou troca de olhares um simples encontro  casual ... tenho que admitir, esse é o meu plot twist favorito .

você é a singularidade que me suga e me transporta a outra dimensão um mundo paralelo que eu desconhecia que eu nem sequer suspeitava que existia mais vivo e colorido mais sublime e divino cheio de paz e perdão lá eu sou mais leve e solto lá meu riso é frouxo lá eu sou todo todo amor .

sentado ao pé da represa ainda consigo ver algumas casas por cima do cume de um agrupamento de árvores que forma um corredor de pedrinhas cinzas com areia e folhas marrons caídas dos galhos mais altos do outro lado da margem dependendo da direção do horizonte mais casas são visíveis em suas diferentes características desde as suas mais variadas formas e tamanhos aos seus diferentes estágios de acabamento não estou tão longe das ruas por isso às vezes pego algum ruído ou som fraquinho vindo da vila, conversas, latidos, brincadeiras, um forró, o carro do ovo, um funk mas o que eu mais ouço aqui é o silêncio do farfalhar das folhas, do zunido dos grilos, das ondas batendo e do sopro ameno do vento outonal com os olhos fechados sou puro sentir pura pele ouvido toque tudo é parte de mim e sou parte de tudo perguntas complexas perdem o sentido quero somente o simples indefinido e contraditório o que permite a multiplicidade do ser com suas partic...

deitados sob a lua rosa nos meus braços sinto que posso te proteger de tudo mas sei que isso não é verdade por isso te aperto mais e mais forte até cairmos no sono ao som de place to be

o sono não vem mas o sol já veio o sol vem e o sono também noite pelo dia dia pela noite acorde! boa tarde! são 3hrs tarde pra fazer algo cedo pra algo fazer nada fez tomou um dramin e dormiu

a pequena luz do celular está vermelha vermelha vermelha vermelha ... depois de muito tempo a luzinha ficou verde verde verde mas foi logo tirar do carregador que ela apagou e secretamente voltou a ficar vermelha vermelha vermelha vermelha .

quebrada que brada: QUEBRADA para todos que brado quebra que brada para todos que bra do s QUE-BRA-DA !

Vitorinha do alto por JuJu Tinha medo de voar de cair e de me perder da distância Tinha medo do futuro do desconhecido e do escuro de me entregar, acreditar Hoje o céu estrelado da noite é mais bonito mais bonito e infinito, chega aqui e aí lá e acolá Por isso, nosso amor abre uma fissura em sua massa escura ligando o meu lugar ao seu lugar, quebrando as leis da física e do universo É a deterioração  do espaço/tempo

O silêncio imperava entre mim e meu pai. Pela manhã não havia bom dia, só sabia que ele tinha ido trabalhar por causa do som da porta sendo fechada. Ele não perguntava sobre mim, meu dia ou minha escola, se tudo estava bem ou estava mal. De noite ele quase não respondia a minha benção, murmurava um deus abençoe ríspido, entre os dentes. Todos os dias eram assim. Em datas comemorativas era um simples aperto de mão acompanhado com o que cabia ao momento, “parabéns”, “feliz aniversário”, “feliz natal”, “feliz ano novo” . A sorte é que eu passava praticamente o dia sem a sua presença, via-o pela noite ou olhe lá. Quando nos víamos pela casa às vezes não falávamos nada só nos cumprimentávamos com um aceno de cabeça. Nunca o vi chorar, parecia uma rocha inabalável, nem quando sua mãe, minha vó, faleceu. Todos os meus tios choraram menos ele. Não sabia como ele se fechava dessa maneira. Não conseguia ler suas expressões, gestos e olhares, para tudo parecia indiferente. Forte meu pai. Lem...

Uma jovem negra para em frente a um cinema com seus cartazes cheios de atrizes brancas. Não demora para que seja abordada por um homem branco desconhecido. A mulher branca da bilheteria não faz nada. A jovem negra resiste, até que um sujeito de topete e cigarro, mas também branco, dá um chega pra lá nele.  Fico com essa imagem na cabeça. Não sei o porquê.  Sombras.           Cassavetes. OBS: deve ter sido por causa das latinhas que eu bebi.