Pular para o conteúdo principal

Despedida

Sexta-feira. Menos uma semana. No mês. No ano. Fernando sai do trabalho. Noite de cervejada com os amigos na Paulista. Da Faria Lima pra lá é um dois. Linha Amarela. Mensagem. Paulo. Já está na Augusta. Ele e Aline estão no Ibotirama. Ainda estão na Serra Malte. Mandam Fernando se apressar. Querem beber a Faxe logo!

Estação. Fradique Coutinho.

Fernando ri com a mensagem. Hoje ele está manchado como o azul do céu nesse fim de tarde. Sereno. Nos fones de ouvido Neon Indian. Era Extraña. Sons suaves e intimistas regidos por uma boa dose de sintetizadores botam um sorriso melancólico no seu rosto cansado.

Polish Girl.

Transferência para a Consolação. Lotada. As pessoas parecem caminhar em passos de formiga. Passos curtos. Capengando de um lado para o outro. Ele sempre se lembra dos operários em Metrópolis.

Fernando está ansioso. Sorte que a poeira de distorções e ruídos de The Blindside Kiss somado com a voz cheia de ecos e reverberações de Palomo lhe coloca num vórtice de calmaria e tensão controlada. Finalmente as escadas para as catracas. Saindo. Ar da Paulista! Safra! Augusta!

Hey Girlfriend mantem a calmaria e o sorriso no rosto.

Descendo a Augusta. Cigarro na boca. Mensagem. Aline. Onde você está ela pergunta. Caramba. Tô chegando. Tô chegando. Fernando responde. Apressa o passo. Espaço Itaú. O novo filme do Philippe Garrel está em cartaz. Putz. Por que ainda não o viu se pergunta. Dessa semana não passa. Mensagem. Adriano e Felipe já chegaram ao Ibotirama. Paulo reclama. Meu só falta você. Onde você tá? O cigarro acabou. Bituca no chão.

Future Sick. Ahhhhh. Future Sick. Ahhhhh. Future Sick. Ahhhhh. Future Sick.

Sintetizadores Coloridos.

Céu manchado.

Fernando chega! Todo mundo grita e levanta os copos de cerveja quando o vê vindo em direção à mesa. A cena enche os olhos de Fernando de lágrimas tímidas. Elas não caem. Só fazem seus olhos brilharem.

Paulo. Melhor amigo. Vai embora para o Canadá. Cara de sorte. Trampo. Aline vai fazer um tour pela Europa. Intercâmbio de seis meses no velho mundo. Adriano e Felipe vão para o Rio. Que Casal. Fernando vai ficar em Sampa. Vai continuar trabalhando e estudando. Vivendo. Fazer o quê. Ele tem alguma coisa com Sampa. É amor. E é como Lupe de Lupe parafraseando Cae:

Ainda não havia para mim Ludovic, Hurtmold e a sua tradução.
Alguma coisa acontece no meu coração que só quando sai do Metrô da Consolação.

E dando um passo a mais:

Nada como um dia após outro dia. Eu cantava isso sempre sem nem imaginar que tudo se tornava parte de mim...

É por isso que ele vai. Ele vai sentir saudade.

Porque Sampa sem essa galera não é Sampa.

Hora dos shots de tequila!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bicharada

Lana É madrugada faz 11° no Grajaú não consigo dormir, mas no escuro permaneço ouvindo o silêncio dos cômodos da casa sob camadas e camadas de tecidos e algodão da touca, do travesseiro e dos cobertores ouço minha respiração & meus pensamentos ouço o pc que ficou ligado ouço os ratos andando sobre o foro &  Mia que para de se coçar para prestar  atenção nos ruídos do teto ouço o vento que balança a janela de leve & Dante que late lá fora, provavelmente  por causa dos ratos Então  de repente  sinto Laninha subindo em minhas pernas cobertas & se encolhendo entre elas como um caracol  – pelo visto não sou só eu acordado nesse frio

Tira-Teima

Ela diz que eu sou teimoso, mas eu insisto que não. Ela que é teimosa por insistir que eu sou teimoso. Entre teimas e teimas resolvi tirar um tira-teima: quando eu digo que a amo ela responde com um amo mais e quando ela diz que me ama eu respondo com um amo mais. Nessa teima sem fim nunca saberemos quem ama mais quem. Os dois são tão teimosos que provavelmente se amam em igual medida: a medida do amo mais. A grandeza é dada pelo amor, o nome da unidade é amo mais e seu símbolo é o infinito (∞) [1] . [1] A parte matemática provavelmente está errada, mas nesse caso ela só serve para ilustrar o quão infinito é o amor de dois teimosos.

Passeio

Chevette preto. Versão SL. Um ponto quatro. Rodas cromadas. Vidros sufilmados.  Passa a cento e vinte quilômetros por hora na Avenida Belmira Marin. O limite na avenida periférica é de sessenta. O clássico de 76 some bairro adentro. São duas e quinze da manhã. Milo, Cuca e Joey conversam na frente da casa de Macau. Contam vantagem do último rolê entre risadas e a fumaça dos cigarros e baseados. Mas se assustam quando um carro estranho na quebrada estaciona na frente deles. Imediatamente os vidros descem e a luz interna do carro acende. Não há ninguém no veículo. Ficam sinistramente cabreiros. O estofado de couro dos bancos fica mais brilhoso sob a luz branca do teto. Os amigos temerosos se levantam para entrar em casa quando o rádio do carro liga sozinho: “Vamo andar pelas ruas de São Paulo, por entre os carros de São Paulo, meu amor, vamos andar e passear” *. Eles se entreolham se perguntando se isso seria um convite. ...