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Mostrando postagens de 2017

Película

Na sala a observar Mexendo no cabelo Balançando as pernas Ou inquieta no celular A ansiedade por terça-feira Não pela tarde e nem pela noite Mas pelo entre Sentados num banco Diante de uma fileira de prédios E do pôr do sol no horizonte entre duas aulas O rodapé não lido A risada alta e contagiante que não passou desapercebida Os pendrives com filmes e com os não ditos Os grains de beauté Pontos para ligar O nervosismo na sala escura A apreensão, a tensão, a expectativa Que enfim foi cumprida ao fim da película Película que nos acompanhou ao fim da sessão Com sua cronometragem infinita Celuloide sem conta e sem ponta Que conta sobre o amor Que transborda Da fita Para a vida

Quilombo

Primeiro foram os índios. E agora somos nós. Começamos nos engenhos. Passamos para as minas. Do tronco para a senzala. Para os cafezais. Só nós trabalhávamos. E só vocês lucraram. Partimos para a quilombagem. Organizando quilombos.  Guerrilhas e protestos. Coletivos ou individuais. Fomos até bandoleiros. Porque a violência também é uma resposta. Por algum motivo ainda estamos aqui. Mas hoje vocês não precisam de nós. Por isso, Fomos empurrados para as margens. E somos mortos pela polícia. Não me venha com o seu “não é assim”. E nem com papo de miscigenação. Me pergunto o quanto minha pele podia ser mais negra se não fosse por vocês. Engano achar que a questão racial não está relacionada com a social. Não somos recortes ou amostragens para a sua academia. Não nos venham com suas pesquisas ou câmeras. Não me objetifique e muito menos fale por mim. Guarde sua culpa e seu humanismo. Se ainda estamos vivos é po...

Essa manhã bateu como um sonho

Toda manhã a árvore no final da rua com seus braços frondosos tenta alçancar o azul bebê do céu. As crianças ao seu redor brincam de pipa e de bike num corre-corre pra lá e pra cá que tira toda a costumeira preguiça matinal. A represa aos fundos brilha com a luz do sol com o seu azul misturando-se com o branco. A sua superfície brilhosa cobre a manhã com um éter efêmero e gelatinoso que se desmancha rápido, mas permanece na lembrança, como um sonho. As casas no horizonte flutuam sobre às águas cristalinas compondo com suas cores um quadro vivo. Vermelhas como a terra, o barro e a poeira que remetem ao lugar de origem de seus moradores ou de suas próprias ruas recém-pavimentadas. Tudo é entrecortado por cores, formas, fios, paralelepípedos, pássaros, nuvens e sombras. Não existe certo ou errado, bem ou mal, bom ou ruim, deus ou diabo, só eu e você, e o que decidimos fazer com o que temos nas mãos.

Era outono

Durante o pôr-do-sol Você cobriu a cidade com o seu amarelo Me embriagou com o seu cheiro Me envolveu com o seu hálito E me abrigou no seu abraço Meu peito já estava transpassado Pelo seu olhar castanho claro Quando veio Tiro Ao Álvaro E ainda achou onde furar

Lunáticos

A rua era íngreme e sem saída. Uma ladeira enorme de paralelepípedos quebrados e desgastados. De um lado casas. Do outro, eucaliptos e pinheiros que formavam uma propriedade rural. A noite tinha chego e a lua veio com ela, saindo de sua casa desconhecida juntamente com as corujas que também saíam de suas tocas secretas, e de toda a molecada que tomava a rua para brincar de esconde-esconde. A noite fora feita para se brincar de esconde-esconde. A escuridão e o silêncio acentuavam o mistério e a tensão. O esconderijo podia ser um galho alto de uma árvore ou os grandes tubos de esgoto que ficavam ao fim da ladeira. No escuro não há limites. Eles varavam noite à dentro descobrindo seus segredos e artimanhas até que seus pais, um por um, os chamavam para casa. Os que restavam continuavam brincando até se cansarem e debandarem por conta própria. Os quatro amigos inseparáveis esperavam todos irem embora para começar a sua interminável busca. Eles procuravam em todas as bocas de lobo, poç...