A rua era íngreme e sem saída. Uma ladeira enorme de paralelepípedos quebrados e desgastados. De um lado casas. Do outro, eucaliptos e pinheiros que formavam uma propriedade rural. A noite tinha chego e a lua veio com ela, saindo de sua casa desconhecida juntamente com as corujas que também saíam de suas tocas secretas, e de toda a molecada que tomava a rua para brincar de esconde-esconde. A noite fora feita para se brincar de esconde-esconde. A escuridão e o silêncio acentuavam o mistério e a tensão. O esconderijo podia ser um galho alto de uma árvore ou os grandes tubos de esgoto que ficavam ao fim da ladeira. No escuro não há limites. Eles varavam noite à dentro descobrindo seus segredos e artimanhas até que seus pais, um por um, os chamavam para casa. Os que restavam continuavam brincando até se cansarem e debandarem por conta própria. Os quatro amigos inseparáveis esperavam todos irem embora para começar a sua interminável busca. Eles procuravam em todas as bocas de lobo, poços de água e buracos cheios de pinha da propriedade logo em frente, mas nunca encontravam aquele pobre garoto, que nas histórias dos mais velhos da vila havia sido esquecido por seus amigos no esconderijo perfeito. Diziam que de lá pra cá a noite tomou providencias para que ninguém pudesse acha-lo, em cada visita sua na vila ela o escondia mais e mais em suas profundezas. Os mais velhos diziam que era a sua mensagem. Mensagem que tinha que ser respeitada. Na verdade, as brincadeiras com ela tinham limites. A noite era sagrada. Os amigos não conhecendo os limites do sagrado e profanando tudo que viam pela frente só acreditariam na lenda local quando algo acontecesse com um dos seus. Juraram que até lá continuariam desafiando o poder noturno, descobrindo toda a sua magia para no fim se tornarem os filhos da lua, na vila eles eram chamados de Lunáticos.
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