O Pesadelo (1781) de Johann Heinrich Füssli. |
Ela acorda e não consegue se mover. Ainda está escuro e os seus olhos vão de um lado ao outro perscrutando o quarto. No breu do recinto seus olhos são as únicas fontes de luz. O casaco que colocou no cabideiro ontem à noite antes de se deitar desenha uma silhueta. A touca no topo intensifica a ilusão de alguém a observando. Fecha os olhos para tentar desanuviar a mente e a imaginação, descansar da realidade, mas não consegue relaxar. Ao abri-los novamente o vulto do cabideiro parece que tomou formas femininas. Duas pequenas bolas vermelhas se acendem no alto da silhueta negra iluminando o cômodo. Ela então passa a enxergar nitidamente o que parece ser uma mulher pequena e raquítica com cara de gavião. A sua aparência é imunda e assustadora. Seus olhos de fogo lhe fitam intensamente. Abre a bocarra cheia de dentes verdes que exala um cheiro de podridão pelo quarto e solta uma gargalhada horripilante. Ela fecha os olhos com força desejando que tudo seja um pesadelo mesmo sabendo que não o é. Para seu desespero sente a mulher subindo em sua cama, sente cada passo que vai afundando o seu colchão e a podridão que junto com a gargalhada vai se intensificando por causa da aproximação. O que a angustia ainda mais é a sua completa imobilidade. Não consegue reagir às ações que lhe são infligidas. A velha finalmente senta-se de costa no seu torso. Mesmo pequena e esquelética ela pesa uma tonelada. Seu peito dói devido à asfixia, mas mesmo sufocando-se sente as mãos secas com dedos compridos que deslizam por suas pernas, se arrepia de dor com as unhas que cortam a parte interna de suas coxas. De repente o peso diminui e a gargalhada fina e estridente se torna grave e grossa. O corpo da velha definhou ainda mais e ela se transformou numa bola cheia de pelo e com chifres. A criatura vira-se para ela com sua língua enorme e lambuza seus seios e barriga. A língua desce pela pélvis em direção à vagina. O asco e o pavor que ela sente são imensos. A criatura abre suas asas e fecha-se com ela num invólucro que irradia uma luz branca que enche o quarto e cega às vistas. Depois de alguns minutos ela recobra a consciência, mas exausta, eufórica e agitada. A primeira coisa que ela vê quando se acalma é novamente a silhueta que o cabideiro desenha, queria se levantar para desfazê-lo, mas agora que ela não consegue se mexer mesmo.
Comentários
Postar um comentário