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Mostrando postagens de outubro, 2015

Passou

Metrô. Transferência. Miguel lá de cima olha para baixo. Plataforma. Uma mãe segura o seu filho que se enverga nos seus braços. Olha para cima. O bebê vê Miguel. Miguel passa e sorri. Marcelo lê no seu quarto. Cookie puxa o cobertor da cama. Gostosamente se espreguiça no cobertor jogado nas costas do chão. Marcelo ri e faz carinho na barriga dele. Cookie tira a língua para fora de satisfação. É o horário do almoço. Gustavo vai para uma praça perto do seu trabalho. Deita no verde sob o azul. Embaixo da sombra da árvore. Cochila docemente no tempo. O tempo desacelera. O tempo para. O cantar dos passarinhos lhe desperta. Ele sorri e se espreguiça. Acende um cigarro. Companhia. O tempo volta mais lento. Rafael e Camila estão deitados na cama. Ela sobre o peito dele. Ele cheira os cabelos dela. Olhos fechados. Transporta-se para outro lugar. Não importa qual. Não importa onde. Um lugar onde o tempo não escorre entre os fios de cabelo. Um lugar onde o tempo se congela para s...

Despedida

Sexta-feira. Menos uma semana. No mês. No ano. Fernando sai do trabalho. Noite de cervejada com os amigos na Paulista. Da Faria Lima pra lá é um dois. Linha Amarela. Mensagem. Paulo. Já está na Augusta. Ele e Aline estão no Ibotirama. Ainda estão na Serra Malte. Mandam Fernando se apressar. Querem beber a Faxe logo! Estação. Fradique Coutinho. Fernando ri com a mensagem. Hoje ele está manchado como o azul do céu nesse fim de tarde. Sereno. Nos fones de ouvido Neon Indian. Era Extraña. Sons suaves e intimistas regidos por uma boa dose de sintetizadores botam um sorriso melancólico no seu rosto cansado. Polish Girl. Transferência para a Consolação. Lotada. As pessoas parecem caminhar em passos de formiga. Passos curtos. Capengando de um lado para o outro. Ele sempre se lembra dos operários em Metrópolis. Fernando está ansioso. Sorte que a poeira de distorções e ruídos de The Blindside Kiss somado com a voz cheia de ecos e reverberações de Palomo lhe coloca num vórti...

Dádiva

Nanã concedeu o casco. Obatalá o sopro. Tudo era seco e preto e branco. Oxumaré trouxe a chuva e as cores. Oquê deu a base de tudo. Sem ori o homem não sabia quem era. Graças a Ori o homem descobriu. A existência absurda e sem sentindo precisou de Ifá para ser suportada. Iemanjá até hoje tenta lhe ensinar equilíbrio. Orixá Oco o plantio deu ao homem. Oxóssi o ensinou a labutar. E Ogum a nunca desistir. Xango deu a gana pela justiça. Omulu revelou as suas fraquezas. E Ossaim mostrou que pra tudo tem um jeito. Em terra de Euá todo homem vai parar. Até que Óia o leve para outro lugar. Sorte do homem que nessa vida é agraciado por Oxum. Com um sentimento contraditório e incomum. E daquele que com Exu aprendeu. Que todo mundo precisa de ajuda. Pode ser homem. Pode ser deus.

Deixa O Menino Brincar

Começo da noite. Lucas assiste Disney CRUJ. Pateta acaba de acabar. Super Patos começa. Depois vem Doug Funnie. Isso se sua mãe não tirar do SBT para assistir as chatas novelas da Globo. E o maldito Jornal Nacional que já vai começar também. Droga. Barulho no vizinho. Choros. Gritos.  – Meu nariz! Meu nariz! Seu pai e sua mãe saem para socorrer alguém. Lucas curioso vai à esteira dos pais. A casa do vizinho é grande. Cheia de casas de aluguel na verdade. Lucas sobe as escadas. Passa pela primeira casa de inquilinos. Casa do amigo Guilherme. Toda escura. Deve ter saído com os pais. Passa pela segunda. Porta e janela aberta. Vazia. Repara em manchas vermelhas no chão. Um monte de gente reunida na porta da terceira casa. Rosa está segurando o sangramento do nariz com a mão. Algumas mulheres a socorrem. Pano molhado. Compressa. No canto Luciano está desnorteado. Bêbado. Fuma seu cigarro. Treme. Lucas repara que os nós da mão direita de Luciano estão sujos de...