Certas
designações parecem que tiram a humanidade das pessoas. Não são palavrões nem
nada, mas termos simples, como nóia, CEO, alienado, doutor, mendigo, intelectual, coach, etc.
São piores do que os palavrões. Odeio cagação de regra. Não quero dizer como as
pessoas devam falar. Mas eu procuro não usar esses termos escrotos que
automaticamente geram uma determinada hierarquia, em que a pessoa assim chamada
ocupa imediatamente um lugar de inferioridade ou superioridade, um estereótipo.
Dito isso. Amo meu gato. O jeito como ele dorme em formato de caracol sempre
que coloco um dream pop ou shoegaze (qualquer tipo de música indie gostosinha
de ouvir) no som do computador. Ironicamente o chamei de Wittgenstein, já que
ele não possui os problemas que nós humanos possuímos com a maldita linguagem.
Ele mia, grunhe, rosna e ronrona, por diversas razões, necessidade, fome, sede,
dor e ansiedade, mas meu outro gato parece sempre entender, enquanto eu nada. O
que só prova que a linguagem pode ser algo simples, mas o ser humano sempre
complica, achando que é mais do que deveria ser ou que é o que não é. Por
exemplo, um eu te amo é um eu te amo. Não é preciso poesia, adornos, firulas, é
curto e grosso, assim como um eu te odeio ou vai se foder. Amo o poder de
síntese dos palavrões. Enquanto certas pessoas os acham vulgares ou chulos. São
uns otários. Meu outro gato se chama Lou. Sei que parece nome de cachorro, mas
ele não tem esse nome por causa de dog nenhum, é por causa do Barlow, sabe? Do
Sebadoh e Dinosaur Jr. Os dois bichanos convivem harmoniosamente assim como o
Lou Barlow nas suas duas bandas (Lógico que ele teve aquele período de
afastamento da Dinosaur Jr. para se dedicar ao Sebadoh, mas isso a gente omite
até porque hoje em dia ele tá dando conta das duas). Eles tomam banho juntos,
brincam, caçam e conversam. Às vezes aparece um pequeno mouse sem cabeça pelos
cômodos da casa e minha esposa fica possessa porque eu sou um desleixado,
deixo os bichos se divertirem sujando a casa toda de vermelho, a cor sinistra da paixão e da morte. Ela sempre diz que devia pegar o rato e
esfregar na minha boca pra que eu pegasse leptospirose e ela então nunca mais
me beijaria e por fim, se eu porventura morresse, livraria ela do trabalho que
eu dou, pois sou pior do que menino novo e escolhemos não ter filhos justamente
por isso. Mas ok. Eu sei que ela me ama e ama os nossos filhos também, o grande
e complexo Wittgenstein e o pequeno e carismático Lou. Tenho que confessar que
entre o Stein e o Lou, eu amo mais o Lou. Ele é pequenininho e fofinho,
carinhoso, dengoso, brincalhão, bonachão e companheiro. Não me levem a mal, amo o
Stein também, mas ele é aquele típico gato blasé e independente, o perfeito
estereótipo felino doméstico (sei que você está me julgando agora porque lá em cima eu disse que não gostava dessa porra). Pensando bem, mesmo assim, Stein é até mais
companheiro e carente do que o Lou que se divide entre duas bandas. Mas agora
entre os membros da minha estranha família eu tenho que confessar que amo mais
a minha esposa. Eu sei que você vai dizer que o animal é muito melhor do que o
ser humano, mas amigo, o ser humano também é um animal. É, eu sei. Desculpe
pela piada, agora continuando. Cara, os bichos são daora e pá, companheirões
mesmo, mas a pessoa que a gente escolhe como parceira e/ou parceiro nessa vida
é outro nível, tá ligado? Porque ela fecha com você nos momentos de “tá ok, eu
te entendo” assim como nos momentos de “vai se foder, isso não tem nada vê”.
Então é isso. Se você não tem uma parceria forte nesse naipe, amigo, você precisa
de uma ou de um gato ou dois, como o Lou que toca em duas bandas, coração é
como o universo, tá sempre esfriando e morrendo, mas também tá sempre em
expansão, crescendo e ficando grandão, por isso que ele abriga tudo no mundo.
Comentários
Postar um comentário