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Mostrando postagens de novembro, 2016

Íncubos

O Pesadelo (1781) de Johann Heinrich Füssli. Ela acorda e não consegue se mover. Ainda está escuro e os seus olhos vão de um lado ao outro perscrutando o quarto. No breu do recinto seus olhos são as únicas fontes de luz. O casaco que colocou no cabideiro ontem à noite antes de se deitar desenha uma silhueta. A touca no topo intensifica a ilusão de alguém a observando. Fecha os olhos para tentar desanuviar a mente e a imaginação, descansar da realidade, mas não consegue relaxar. Ao abri-los novamente o vulto do cabideiro parece que tomou formas femininas. Duas pequenas bolas vermelhas se acendem no alto da silhueta negra iluminando o cômodo. Ela então passa a enxergar nitidamente o que parece ser uma mulher pequena e raquítica com cara de gavião. A sua aparência é imunda e assustadora. Seus olhos de fogo lhe fitam intensamente. Abre a bocarra cheia de dentes verdes que exala um cheiro de podridão pelo quarto e solta uma gargalhada horripilante. Ela fecha os olhos com força deseja...

Passeio

Chevette preto. Versão SL. Um ponto quatro. Rodas cromadas. Vidros sufilmados.  Passa a cento e vinte quilômetros por hora na Avenida Belmira Marin. O limite na avenida periférica é de sessenta. O clássico de 76 some bairro adentro. São duas e quinze da manhã. Milo, Cuca e Joey conversam na frente da casa de Macau. Contam vantagem do último rolê entre risadas e a fumaça dos cigarros e baseados. Mas se assustam quando um carro estranho na quebrada estaciona na frente deles. Imediatamente os vidros descem e a luz interna do carro acende. Não há ninguém no veículo. Ficam sinistramente cabreiros. O estofado de couro dos bancos fica mais brilhoso sob a luz branca do teto. Os amigos temerosos se levantam para entrar em casa quando o rádio do carro liga sozinho: “Vamo andar pelas ruas de São Paulo, por entre os carros de São Paulo, meu amor, vamos andar e passear” *. Eles se entreolham se perguntando se isso seria um convite. ...