O silêncio imperava entre mim e meu pai. Pela manhã não havia bom dia, só sabia que ele tinha ido trabalhar por causa do som da porta sendo fechada. Ele não perguntava sobre mim, meu dia ou minha escola, se tudo estava bem ou estava mal. De noite ele quase não respondia a minha benção, murmurava um deus abençoe ríspido, entre os dentes. Todos os dias eram assim. Em datas comemorativas era um simples aperto de mão acompanhado com o que cabia ao momento, “parabéns”, “feliz aniversário”, “feliz natal”, “feliz ano novo” . A sorte é que eu passava praticamente o dia sem a sua presença, via-o pela noite ou olhe lá. Quando nos víamos pela casa às vezes não falávamos nada só nos cumprimentávamos com um aceno de cabeça. Nunca o vi chorar, parecia uma rocha inabalável, nem quando sua mãe, minha vó, faleceu. Todos os meus tios choraram menos ele. Não sabia como ele se fechava dessa maneira. Não conseguia ler suas expressões, gestos e olhares, para tudo parecia indiferente. Forte meu pai. Lem...