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Mostrando postagens de maio, 2016

Solidão A Dois

Um sad rock belorizontino reverbera no pequeno cubículo. Ele fuma deitado no colo dela. Ela lê enquanto acaricia os cabelos dele. O som alto das guitarras esconde o barulho da chuva que acaba com o mundo lá fora. A tempestade assopra as paredes que envolvem o pequeno mundo pueril deles, os protegendo das intempéries, indiferentes a realidade externa não percebem a implosão de dentro pra fora, da solidão que corrói e os ausenta mesmo estando corporalmente presentes. Antes dividir a solidão do que sufocar-se sozinho no vazio gélido insuportável da alma. De repente a temperatura no quarto cai, o cômodo parece mais frio que os ventos tempestuosos. Vão juntos para debaixo dos cobertores, adormecem dividindo a temperatura dos seus corpos, um calor que relaxa os músculos e as pálpebras num sono irresistível e profundo. Sonham o mesmo sonho onde polos extremos são ligados por uma linha tênue que ora os aproxima e ora os repele num movimento de vem e vai eterno e cíclico que é interrompido pel...

Esteira

Ela desce do bus. Já é uma hora da manhã. A Avenida Belmira Marin está praticamente deserta. As vielas estreitas e insalubres do Jardim Prainha são mais inóspitas ainda. Teve o azar de não ter ninguém no ônibus que também morasse por esses lados. Ela desce a Estrada da Ligação sozinha. Começa numa velocidade baixa.  Da Avenida até a sua casa são aproximadamente mil metros e meio. Desce num passo constante. Passa pelo primeiro e sinistro trecho da estrada com as torres de alta tensão e seus barracões. Ela não olha para os lados com medo de ver alguém na escuridão. Bota Arctic Monkeys nos fones de ouvido para tentar relaxar. Brianstorm ajuda a aumentar o ritmo. Já está numa velocidade elevada. Passo firme e respiração ofegante. A vendinha protegida por grades sempre reúne um grupinho de rapazes. Passa sentindo que está sendo acompanhada por olhares.  Passando pela igreja católica numa velocidade maior é surpreendida por um homem que sai da rua quinze ou doze,...

Cultura É Passado

Jards contempla os pôsteres na entrada do PlayArte no shopping Center 3. Ele tenta se decidir por um dos filmes junto com seu filho Daniel de dezesseis anos. Mas logo desanima do programa, o filho percebe a mudança no seu semblante. Que foi pai? Me bateu um desânimo. Não sei se quero mais assistir. Tudo bem. Jards melancólico e nostálgico completa. Sabe filho, tinha uma época que pelo menos um desses pôsteres era brasileiro. O que aconteceu? Acabaram com a Cultura.